A ansiedade pela vida eterna é tão antiga quanto a raça. Evidência disso nos dá o “Livro dos Mortos”que os antigos egípcios depositavam nos sarcófagos de seus mortos como uma espécie de passaporte para o além. O livro completo teria cerca de 150 capítulos, mas as cópias existentes
raramente são completas. O texto, geralmente em bela escrita hieroglífica, contém ilustrações fascinantes, e representa preces, confissões e encantamentos que visam a persuadir ou subornar os guardiães do além a admitirem o morto à bem-aventurança
eterna. A cena mais conhecida é a da pesagem do coração pelo deus Anúbis. O coração é representado num prato da balança e no outro uma pena, que simbolizava a justiça, enquanto o deus-escriba,
Thoth, anota o resultado do julgamento. Outra ilustração mostra o deus Hórus apresentando o defunto justificado perante Osíris, o deus dos mortos. Nenhuma despesa
era poupada pelos mais abastados para preservar o corpo de desintegração por embalsamamento, sendo a múmia então
depositada numa capela funerária, onde ofertas de alimentos eram trazidas piedosamente, e preces oferecidas.
A verdade, porém, é que os antigos egípcios tateavam nas trevas, sem certeza alguma de que suas esperanças pudessem realizar-se.
Com esta breve introdução, propomo-nos examinar alguns outros aspectos da doutrina bíblica aqui defendida de que ninguém vai ao Céu por ocasião da morte, mas devem todos aguardar a ressurreição do último dia. Para não cansar ao leitor, e dar oportunidade a que as objeções sejam ouvidas, estudaremos o assunto na forma de perguntas e respostas.
Objeções e Respostas
Se é verdade que ninguém vai ao céu por ocasião da morte, por que teria Paulo declarado certa vez: “Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor…Entretanto estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor”? Não diz Paulo, textualmente, que preferia deixar a presente existência e habitar com Cristo?
Lembremo-nos de que, nessa carta, Paulo não pode contradizer o que disse na primeira carta aos Coríntios, escrita uns três meses antes. O que Paulo tem em mente é esclarescido pelo contexto, começando com o verso 1. O Apóstolo chama o corpo atual de “casa terrestre” ou “tabernáculo”, na qual casa a melhor das existências é um gemido angustiado. Sua esperança não é ser despido deste corpo mortal, mas ser revestido, “para que o mortal seja absorvido pela vida” (verso 4). Ora, em I Coríntios 15:52-54 Paulo deixa claro que o mortal será revestido da imortalidade em duas, e unicamente duas, circunstâncias:
Essa explicação cuida da passagem em II Coríntios 5. Como, porém, compreender a passagem de filipenses 1:23, onde ele externa o desejo “de partir e estar com Cristo” ? Não implica este texto na existência de uma alma que abandona o corpo e sobe a presença divina?
Sem dúvida, esta é a primeira impressão, ao lermos o texto. Mas primeiras impressões nem sempre são corretas. Se tal fosse verdade, Paulo não teria frisado, nesta mesma carta, a importância absoluta da ressurreição. Paulo que sacrificara tudo “por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus”, ansiava conhecê-Lo ainda melhor e “o poder de sua ressurreição e a comunhão dos Seus sofrimentos, conformando-me com Ele na Sua morte; para de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos” (Filipenses 3:11). Se houvesse outro modo de estar com Cristo sem ser através da ressurreição, Paulo não colocaria a ressurreição dentre os mortos como alvo supremo de sua carreira cristã.
Se tudo se dissolve com a morte, se não há uma alma que sobrevive, onde fica nossa identidade individual? Não é a personalidade o que temos de mais autenticamente nosso? Que certeza podemos alimentar de que nossa identidade não se perde ao cerrarmos os olhos na morte?
Não há dúvida de que a morte é a prova suprema da fé. O crente precisa estar preparado para fazer o que os teólogos chamam o “salto da fé”. A perplexidade do ser humano é semelhante à da criança que, de pé junto ao alçapão aberto, ouviu a voz do pai, que do porão escuro lhe dizia: “Salte, meu filho, que eu o tomo nos braços”. “Mas eu não enxergo nada,” replicou a criança. “Não importa, meu filho, eu o vejo”. A criança não mais hesitou e saltou, para ser tomada nos fortes braços do pai. Assim o filho de Deus confia em que os “braços eternos” o receberão; tem a palavra de seu Pai como garantia. Ao exalarmos o último suspiro, “nossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.
Não são as manifestações espíritas, com sua invocação dos mortos, uma prova palpável de que a alma sobrevive ao corpo?
O que podemos entender pela expressão “Espírito de Demônios?
Esta expressão bíblica se refere ao que Paulo chama “as forças espirituais do mal, nas regiões celestes”. (Efésios 6:12). Paulo não partilhava da opinião, entretida por alguns hoje, de que não há “ressurreição, nem anjo, nem espírito”.(Atos 23:8). Isto era o que pensavam os saduceus, seus contemporâneos, que podem ser caracterizados como semi-agnósticos. Para Paulo, como para o próprio Cristo, a realidade de Satanás estava além de qualquer dúvida. Nas páginas da Bíblia ele aparece sob várias designações: “diabo”, “príncipe deste mundo”, “príncipe do mal”, “a antiga serpente”; mas sua identidade é sempre a mesma.
Não é ridículo entreter tais opiniões em nosso século de luzes? Qual teria sido a origem de Satanás?
Se Deus criou esse anjo extraordinário que, Isaías chama de Lúcifer (Isaías 14:12-14), anjo este que caiu em pecado, não permanece Deus ainda responsável pela origem do pecado, uma vez que o criador é onisciente?
Permita-me uma ilustração. Há muitos anos trás, destroçou-se no céu da Califórnia o avião experimental BFX, com um recorde de velocidade de 4 mil quilômetros horários. Era um laboratório voador em que se testava toda sorte de problemas encontrados na construção de aviões supersônicos. O investimento de capital era simplesmente fabuloso – da ordem de vários milhões de dólares. O BFX foi construído pela companhia North American Aviation. Alguém, desconhecendo as causas do acidente,poderia ter culpado a companhia construtora. “North American construiu…North American é responsável”.Várias investigações foram feitas, e finalmente ficou esclarecido que a culpa do acidente cabia não à construtora do avião, nem ao piloto, que era um dos mais capazes, mas à decisão de um grupo de funcionários da companhia, ansiosos de impressionar a nação e o congresso com um golpe de publicidade. O avião, que pertencia a uma classe inteiramente à parte, devia ser fotografado em formação cerrada, com três aviões menores. Nessas velocidades fantásticas, um dos aviões menores foi simplesmente “sugado” de encontro ao BFX, resultando na colisão fatal. A culpa do acidente não cabia à construtora, mas a alguém que abusou das qualidades extraordinárias do avião por motivo, podemos quase dizer, de vaidade.
Por que não foi Lúcifer, imediatamente extinto, poupando assim ao mundo a devastação do pecado com seu cortejo de sofrimento e morte? Não é Deus todo-poderoso?
Seria presunção imperdoável imaginar que nós, pobres mortais, pudéssemos compreender com meridiana clareza o problema suscitado com a introdução do mal no Universo. Há problemas que a própria Bíblia deixa envoltos no manto do silêncio. Quando as Escrituras não são explícitas no assunto, qualquer tentativa de penetrar o mistério do mal deve ser interpretada como construção provisória do raciocínio humano. Uma sugestão plausível é a seguinte: Tivesse Deus destruído Lúcifer de imediato, sem que a verdadeira natureza do pecado fosse compreendida, então os demais anjos teriam servido a Deus motivados por temor, e não unicamente por amor. Ora, é claro que neste Universo de Deus não deve haver, afinal, outro constrangimento que não o constrangimento do amor. ( II Coríntios 5:14).
Foi Lúcifer, acompanhado, em seu orgulho e rebelião, por outros seres celestiais?
Essa pergunta nos leva de volta ao assunto dos demônios e seu papel nas manifestações espiritualistas. No capítulo 12 do Apocalipse, é-nos dado um rápido vislumbre dessa guerra
no Céu, quand o Satanás, como líder da rebelião, arrastou “a terça parte das estrelas do Céu, as quais lançou para terra” (Apocalipse 12:4). No verso 7, as estrelas são identificadas com os anjos, pois lemos: “Houve peleja no Céu. Miguel e seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos”. Em conexão com o mesmo assunto, o apóstolo Judas fala de “anjos, os quais não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio…” (Judas 6). Por incrível que pareça, houve anjos que, iludidos, escolheram a senda da rebelião e lançaram sua sorte com Satanás. Esses anjos, deformados em seu caráter pelo efeito corruptor do pecado, é que Paulo chama de “espíritos enganadores”, ou “demônios”. (I Timóteo 4:1). Há, conseqüentemente, uma hierarquia do mal a cuja testa está o “príncipe deste mundo”.
É crença de muitos que os espíritos dos mortos é que aparecem nas sessões espíritas. Qual a relação entre os “demônios” e as manifestações espíritas?
E sobre a sessão espírita em Em-Dor, quando o rei Saul invocou o espírito do profeta Samuel? Não diz a passagem em questão que o profeta Samuel de fato apareceu a Saul?
Preliminarmente, convém notar que a prática pagã de invocar os mortos através de médiuns e adivinhos é expressamente proibida nas Escrituras, e o próprio Saul impôs a observância desse estatuto, no princípio de seu reinado. (I Samuel 28:3). O estatuto em questão encontra-se em Deuteronômio 18:10 e 11, e reza como segue: “Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem adivinhos, nem prognosticadores, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos”. Essas práticas eram correntes entre as nações pagãs que ocuparam a Palestina antes dos israelitas, e são citadas como uma razão para seu desalojamento. Eram “uma abominação ao Senhor”, porque faziam de seus adeptos participantes voluntários de uma fraude satânica. O ressurgimento moderno dessas práticas, quase tão antigas quanto a raça, atesta da fascinação que o mistério da morte tem para o homem.
Além disso, o capítulo 28 de I Samuel torna bem claro que Saul, pela persistência obstinada no erro, tinha cortado qualquer possibilidade de comunicação com Deus, que não lhe respondia “nem por sonhos, nem por urim, nem por profetas” (verso 6). Seria, pergunto, crível que Deus, que não mais Se comunicava com Saul pelo que poderíamos chamar os canais normais, fosse permitir que o profeta Samuel, já falecido, aparecesse numa caverna ao chamado de uma médium espírita? Estaria o profeta de Deus sujeito à importunação de alguém cujas atividades eram contrárias às instruções divinas?
O relato dessa estranha sessão, na caverna de En-Dor, torna igualmente claro que Saul não viu Samuel. Apenas a médium teria visto um vulto subindo da terra, o qual Saul interpretou como sendo o profeta Samuel. Causa igualmente espécie que o “espírito” do bom profeta Samuel subisse da terra, em vez de descer do Céu, se é correto o ensino de que a alma dos bons vai para a presença divina, ao morrerem. Acresce a todas essas circunstâncias o fato de as Escrituras declararem que uma razão porque Saul perdeu a vida na inglória batalha do monte Gilboa foi precisamente “porque interrogara e consultara uma necromante” (I Crônicas 10:13), fazendo transbordar com esse gesto iníquo a taça de sua impiedade.
A única conclusão plausível é que a sessão mediúnica de En-Dor foi uma ofensa a Deus; que o que ali ocorreu não teve a sanção divina, porque Deus não permitiria o que uma vez proibira; que o profeta Samuel não compareceu à invocação de uma feiticeira, nem compactuou com uma atividade considerada abominável e pagã, e que todas as palavras que são atribuiídas à Samuel o são apenas num sentido metafórico. O que ocorreu em En-Dor pode melhor ser explicado como a manifestação de um espírito diabólico, que agia sob as ordens do príncipe das trevas, “com todo poder e sinais e prodígios de mentira”. (II Tessalonicenses 2:9). Que um anjo caído assumisse a aparência de um profeta, não é de admirar, pois, como escreveu o apóstolo Paulo, “o próprio Satanás se transforma em anjo de luz”. II Coríntios 11:14. Mistificação é apenas uma das atividades da grande conspiração do mal.
Como a profecia referente à morte de Saul e de seus filhos, no dia seguinte, pronunciada, por um anjo caído que personificava o profeta Samuel, veio a realizar-se literalmente? Pode Satanás ler o futuro?
Através do profeta Isaías, Deus lança vários desafios aos supostos deuses do paganismo, para que revelem o futuro: “Trazei e anunciai-nos as coisas que hão de acontecer; relatai-nos as profecias anteriores, para que atentemos para elas e saibamos se se cumpriram; ou faze-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses…’ De novo: “Quem há como Eu, feito predições desde que estabeleci o mais antigo povo? Que o declare e o exponha perante Mim. Esse que anuncie as coisas futuras, as coisas que hão de vir”.(Isaías 41:22, 23 e 44:7)
De acordo com estes versos, prever o futuro é uma prerrogativa divina. A Deus, somente, pertence o atributo da onisciência, a qual inclui o conhecimento do futuro. Deus, unicamente, tem em Suas mãos o futuro como um livro aberto. Os pagãos tinham seus oráculos, mas a duplicidade e ambigüidade de seus pronunciamentos são proverbiais. Homens em todos os tempos, e porque não dizer, anjos também, têm procurado levantar o véu que cobre o futuro. Em que pese seu esforço, num Universo povoado por seres dotados do poder de escolha, o futuro permanecerá sempre ambíguo, exceto para Deus. Filósofos têm procurado em vão descobrir as “leis” da história, porque, se leis houvesse, o futuro seria previsível, ao menos em linhas gerais. A história permanece, no entanto, o registro de eventos únicos e irrepetíveis, porque atrás de cada evento há o elemento de novidade oculto na vontade de seres livres.
Mas não é verdade que Saul e seus filhos morreram no dia seguinte, conforme a previsão da feiticeira de En-Dor, ou de quem falou por seu intermédio?
A história da predição correta, feita na caverna de En-Dor, foi narrada porque ela encerra uma lição moral, e não para endossar a teoria de que o “espírito” do profeta Samuel, compareceu, intimado por uma pitonisa. Uma vez que Saul estava alienado de Deus, a Fonte de seu poder, não era difícil prever o resultado da batalha no monte Gilboa.
Muitos argumentam que a aparição de Moisés e Elias com Cristo, no monte da transfiguração, é evidência de que os espíritos dos santos sobem ao Céu por ocasião da morte. Há alguma validade nesse argumento?
Não tivesse Moisés experimentado uma ressurreição especial, sua sorte não teria sido diferente da de Davi, de quem Pedro afirma que “não subiu aos Céus”. Paulo concorre com o veredicto de Pedro, declarando: “Porque, na verdade, tendo Davi servido a sua própria geração conforme o desígnio de Deus, adormeceu, foi para juntos de seus pais e viu corrupção”. (Atos 2:34 e 13:36). Davi, como os demais santos, descansa na sepultura até ouvir a voz do Doador da vida.
Quanto a Elias, o relato bíblico é que foi trasladado, isto é, foi levado para o Céu num “carro de fogo”, sem experimentar a morte. Está, pois explicada, à luz das Escrituras, a presença de Moisés e Elias no monte da Transfiguração. Não foi a alma desses profetas que apareceu a Cristo no monte, mas ambos em pessoa.
Há quem creia que João batista seja Elias reencarnado. Dizem as Escrituras qualquer coisa sobre a reencarnação?
Tanto o termo como o conceito da reencarnação são estranhos às Escrituras. O veredicto bíblico é eloqüente em sua simplicidade: “Aos homens está ordenado morrerem uma só vez”. (Hebreus 9:27). Uma única é a oportunidade do homem decidir seu destino eterno. “Hoje”, esta presente vida, “é o dia da salvação”. Há urgência no convite divino porque, nesta vida, sela cada qual sua sorte de maneira irrevogável. A idéia da reencarnação é peculiar às religiões da índia, e chegou mesmo a colorir o pensamento do filósofo grego Platão. Mas, tanto a Bíblia como a voz da Igreja cristã, são unânimes em rejeitar essa idéia. Se a alma é a própria pessoa que cessa de existir com a morte, a possibilidade da reencarnação é, por esta mesma razão, excluída.
Quanto a opinião de ser João Batista uma reencarnação do profeta Elias, deixaremos a critério do leitor, depois de fazer as seguintes observações:
Duas possibilidades nos confrontam. Primeira: as palavras de Jesus devem ser tomadas literalmente, criando uma contradição com o testemunho do próprio João Batista, ou a profecia de Malaquias, à qual Jesus se referiu, deve ser compreendida figurativamente. Ora é este segundo sentido que lhe emprestou o anjo, quando anunciou o nascimento de João a seu pai Zacarias: “E irá adiante dEle (de Cristo) no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos”. (Lucas 1:17). Evidentemente, o anjo tem em mente a mesma profecia de Malaquias, e reconhece que esta não requer uma interpretação literal, mas tão-somente figurada. São João cumpriu a predição, vindo no “espírito e poder de Elias”, com o mesmo rigor ascético, com a mesma franqueza, dotado da mesma coragem para denunciar o pecado, tanto entre as massas, como na família de Herodes. O leitor concluirá por si se o texto de S.Mateus 11:14 suporta ou não a idéia da reencarnação.
1º) Os que estiverem vivos, quando soar a “última trombeta”, serão simplesmente “transformados”, isto é, revestidos de incorruptibilidade, “num momento, num abrir e fechar de olhos”;
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