O modo maravilhoso como o povo de Israel, conduzido por Josué, conquistou a cidade de Jericó, continua a excitar a curiosidade dos leitores da Bíblia. O facto é narrado no capítulo 6 do livro de Josué, e aparece situado por volta do ano 1200 a.C., quando os israelitas chegaram à Palestina, a Terra Prometida.
A primeira cidade inimiga que encontraram foi Jericó. Segundo o relato bíblico, era um centro importante e rico (Js 6,24), rodeado por muralhas altas e poderosas (6,5). No seu interior habitavam os cananeus, povo bem apetrechado, com um rei, com serviços secretos de inteligência (Js 2,2), e com um valoroso exército treinado para a guerra. Os israelitas, pelo contrário, eram apenas um bando desorganizado de tribos e clãs que vinham a fugir da escravidão do Egipto.
Antes de eles chegarem, Deus tinha prometido entregar nas sus mãos todo o país, de Norte a Sul e de Este a Oeste. E eis que, logo à chegada, perante as suas reduzidas forças se erguia, como um obstáculo intransponível, a majestosa e soberba Jericó. Como poderiam conquistar todo o país, se a primeira cidade já parecia inconquistável?
A armadilha insólita.
Nesse momento Deus falou a Josué, e explicou-lhe a estratégia que deviam utilizar para vencer Jericó. Tratava-se de um ritual estranho. Durante sete dias, marchariam em círculo, à volta da cidade, levando a Arca da Aliança. Os sacerdotes iriam tocando as trombetas, enquanto o resto do povo os acompanharia com um solene silêncio. Dariam uma volta cada dia e voltariam para o acampamento.
Diz a Bíblia: «No sétimo dia, levantando-se de madrugada, deram sete a volta à cidade, como nos dias precedentes. Foi o único dia em que deram a volta à cidade por sete vezes» (Js 6,15).
Logo a seguir à sétima volta, Josué disse ao povo: «Gritai, porque o Senhor vos entrega a cidade» (6,16).
«Mal o povo escutou o som das trombetas, fez ouvir um grande clamor e as muralhas da cidade desabaram. Os filhos de Israel subiram à cidade, cada um pela brecha que tinha na sua frente, e tomaram a cidade» (6,20).
Assim, mediante esta insólita estratégia sugerida pelo próprio Deus, o povo de Israel exterminou todos os habitantes de Jericó, pegou fogo à cidade e reduziu-a a um monte de escombros e restos calcinados.
A batalha de Jericó aparece como um acontecimento militar chave para o povo de Israel, uma vez que lhe abriu as portas da conquista da Palestina.
Milagre, ou terramoto?
O que aconteceu realmente na batalha de Jericó? Durante séculos, as opiniões dos biblistas estiveram muito divididas. Iam do rotundo “impossível”, até à fé cega num milagre de Deus.
Alguns pensavam num fenómeno natural, isto é, num terramoto que teria ocorrido exactamente nesse dia. Outros afirmavam que as voltas dadas à volta da cidade distraíram os seus defensores, e o alarido de guerra e as trombetas tê-los-iam espantado e perturbado. Outra hipótese defendia que a expressão “muro da cidade” é uma metáfora para designar a “guarda da cidade”, e que dizer «as muralhas desabaram» significa que “os soldados ficaram impotentes” quando os israelitas atacaram. Claro, também houve os que o entendiam como uma intervenção directa de Deus, que derrubou as muralhas de Jericó para favorecer os israelitas.
Quando as pás falam.
Talvez se tivesse continuado a discutir a questão por muito mais tempo, se um achado arqueológico que pusesse ponto final a este debate.
A cidade de Jericó foi descoberta em 1868, numa localidade chamada pelos árabes Tel es-Sultan, a 28 km ao nordeste de Jerusalém, perto do Mar Morto. Mas as primeiras escavações realizaram-se entre 1908 e 1910 por dois investigadores alemães, E. Sellin y C. Watzinger, com resultados muito positivos.
Vinte anos depois, entre 1930 e 1936, teve lugar a segunda campanha arqueológica, mediante una expedição inglesa dirigida por John Garstang, a qual também trouxe à luz achados de enorme importância.
Mas, as descobertas mais extraordinárias foram realizadas pela arqueóloga Kathleen Kenyon, na terceira e última campanha. Ao longo de oito anos, entre 1952 e 1959, escavou intensamente toda a zona de Jericó, até não deixar praticamente nenhuma zona importante sem remover. Graças a estas investigações, foi possível traçar quase integralmente a História da cidade de Jericó.
Pr. José Carlos Costa
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