A revista Época
publicou tempos atrás matéria que afirma que a invenção da escrita ocorreu há 6 mil anos, na Mesopotâmia. Acompanhava o texto um quadro com a informação "5.200 anos" e "Ascensão da civilização egípcia e construção das pirâmides", e paralelamente o autor da matéria coloca eventos bíblicos da Criação e do Dilúvio como contraditórios em relação aos outros eventos citados. Minha pergunta é: Seria mesmo verdade que há 6 mil anos a escrita foi inventada na Mesopotâmia, bem como o segundo evento? -
Creio que os comentários abaixo, extraídos de um livro sobre arqueologia bíblica que a Casa Publicadora Brasileira está preparando, devem esclarecer a questão. O autor, Dr. Rodrigo Silva, autorizou a publicação desses comentários e ressaltou que as referências bibliográficas constarão do livro:
"Alguns estudiosos estabelecem a origem da escrita para algo em torno de 3100 a.C. Outros para não mais que 2.500 a.C. Mas no passado essa data era muito mais antiga. A cronologia do dilúvio correlata às primeiras civilizações pré-diluvianas é algo extenso que não tenho como responder por aqui. Mas quanto às datas, verifique este trecho do livro que acabei de escrever e que a Casa vai lançar no ano que vem (2007):
"Mudanças de paradigma nas datações convencionais - À luz do que já ocorreu várias vezes na história da ciência cronologista, não deveremos nos surpreender se algumas datas hoje convencionalmente divulgadas sofrerem alteração. Várias datações da história antiga já foram revistas e encurtadas por respeitados especialistas da área.
"Petrie e Wooley, pioneiros da egiptologia, datavam a primeira dinastia Egípia em 5.000 anos antes de Cristo. Hoje o cômputo mais aceito é o de 3100 a.C. e há quem sugira uma datação ainda mais recente. As dinastias egípcias, diga-se de passagem, são o marco para a cronologia do segundo milênio a.C. (inclusive a mesopotâmica) e, pelo que veremos mais à frente, elas ainda são tema de constantes debates acadêmicos.
"Não muito distante simpósio sobre cronologia e história realizado na Europa, foi declarado que até mesmo o Museu Britânico manteve durante décadas uma série de tabletes cuneiformes datados em torno de 4.500 anos antes de Cristo, cujo consenso atual não os atribui a mais que 2500 a.C. Já antes disso, o falecido Dr. Libby, pioneiro do método do C14, declarou em 1956: 'Eu e o Dr. Arnold ficamos chocados quando nossos conselheiros de pesquisa nos informaram que a história se estendia a apenas 5.000 anos. Nós lemos livros e encontramos declarações de que tal e tal sociedade ou sítio arqueológico data, por exemplo, de 20.000 anos. Mas aprendemos, abruptamente, que esses números, isto é, aquelas antigas datas, não são certeza absoluta, elas se baseiam no período [convencional] da primeira dinastia do Egito que á a mais antiga data histórica que se tem uma certeza estabelecida.
"Datações anteriores ao surgimento da escrita - A despeito da importância que os ossos, ferramentas, ornamentos e cerâmicas tenham para o estudo arqueológico, é importante mencionar que, em termos de datação antiga (i.e. anterior à invenção da escrita), sua contribuição é inconclusiva e está sujeita a novas interpretações. Há, por exemplo, um grande debate em aberto sobre a data da destruição de Jericó, pois sua principal evidência vem das cerâmicas encontradas no local que são interpretadas de maneira diferente, de acordo com o especialista que as analisa.
"Se quisermos evitar erros sistêmicos talvez devêssemos nos manter mais confiantemente dentro daquela cronologia que parte da invenção da escrita para o presente. Afinal, documentos escritos são fontes mais seguras que oferecem, por exemplo, o testemunho de um eclipse ou de um terremoto que com os atuais instrumentos de estudo da astronomia ou da sismografia podem ser identificados com absoluta precisão. Isso nos levaria para algo em torno de 2500 a.C., que é quando começa a história registrada por escrito.
"Contudo, mesmo alguns historiadores não bíblicos, como John G. Read, ainda se mostram cautelosos ao afirmar que 'as datas bem autenticadas [em relação à cronologia egípcia] só nos permitem recuar para 1.600 anos a.C.' A razão para este comentário está em que as datas egípcias com maior ou menor grau de precisão só podem ser traçadas com certa margem de segurança até à discutível dinastia de Ramsés (1320 a.C.), que levou pelo menos nove reis a adotarem esse nome.
"As datas a partir desse período são estabelecidas com base em listas de reis sumerianos, cronologia grega e outras fontes correlatas. Porém, para períodos que antecedem essa época, aumenta-se consideravelmente o grau de incerteza. Os egípcios datavam os fatos pelo reinado de seus faraós. Por exemplo: 'isso ocorreu no terceiro ano do reinado de Ahmosis'. Mas hoje é sabido que houve co-regências, de modo que o quinto ano de um rei poderia ser também o seu primeiro ano, pois os quatro anteriores foram em companhia de seu pai que não havia de modo algum abdicado do trono.
"Ademais, não temos precisamente o número de reis que governaram em todos os períodos do Egito. Por razões políticas ou religiosas, os escribas muitas vezes compilavam as dinastias com uma precisão exata, noutras não. Algumas dessas listas sobreviveram até nosso tempo e entre elas podemos citar a Pedra de Palermo, que está em Turim, e a Tábua de Karnak, que atualmente encontra-se no Museu do Louvre. Contudo, nenhuma dessas listas está preservada o bastante para solucionar todos os detalhes a ponto de oferecer uma cronologia absolutamente precisa. Talvez achados futuros poderão nos ajudar, mas, por enquanto, são estes os elementos que a história disponibiliza."
Creio que os comentários abaixo, extraídos de um livro sobre arqueologia bíblica que a Casa Publicadora Brasileira está preparando, devem esclarecer a questão. O autor, Dr. Rodrigo Silva, autorizou a publicação desses comentários e ressaltou que as referências bibliográficas constarão do livro:
"Alguns estudiosos estabelecem a origem da escrita para algo em torno de 3100 a.C. Outros para não mais que 2.500 a.C. Mas no passado essa data era muito mais antiga. A cronologia do dilúvio correlata às primeiras civilizações pré-diluvianas é algo extenso que não tenho como responder por aqui. Mas quanto às datas, verifique este trecho do livro que acabei de escrever e que a Casa vai lançar no ano que vem (2007):
"Mudanças de paradigma nas datações convencionais - À luz do que já ocorreu várias vezes na história da ciência cronologista, não deveremos nos surpreender se algumas datas hoje convencionalmente divulgadas sofrerem alteração. Várias datações da história antiga já foram revistas e encurtadas por respeitados especialistas da área.
"Petrie e Wooley, pioneiros da egiptologia, datavam a primeira dinastia Egípia em 5.000 anos antes de Cristo. Hoje o cômputo mais aceito é o de 3100 a.C. e há quem sugira uma datação ainda mais recente. As dinastias egípcias, diga-se de passagem, são o marco para a cronologia do segundo milênio a.C. (inclusive a mesopotâmica) e, pelo que veremos mais à frente, elas ainda são tema de constantes debates acadêmicos.
"Não muito distante simpósio sobre cronologia e história realizado na Europa, foi declarado que até mesmo o Museu Britânico manteve durante décadas uma série de tabletes cuneiformes datados em torno de 4.500 anos antes de Cristo, cujo consenso atual não os atribui a mais que 2500 a.C. Já antes disso, o falecido Dr. Libby, pioneiro do método do C14, declarou em 1956: 'Eu e o Dr. Arnold ficamos chocados quando nossos conselheiros de pesquisa nos informaram que a história se estendia a apenas 5.000 anos. Nós lemos livros e encontramos declarações de que tal e tal sociedade ou sítio arqueológico data, por exemplo, de 20.000 anos. Mas aprendemos, abruptamente, que esses números, isto é, aquelas antigas datas, não são certeza absoluta, elas se baseiam no período [convencional] da primeira dinastia do Egito que á a mais antiga data histórica que se tem uma certeza estabelecida.
"Datações anteriores ao surgimento da escrita - A despeito da importância que os ossos, ferramentas, ornamentos e cerâmicas tenham para o estudo arqueológico, é importante mencionar que, em termos de datação antiga (i.e. anterior à invenção da escrita), sua contribuição é inconclusiva e está sujeita a novas interpretações. Há, por exemplo, um grande debate em aberto sobre a data da destruição de Jericó, pois sua principal evidência vem das cerâmicas encontradas no local que são interpretadas de maneira diferente, de acordo com o especialista que as analisa.
"Se quisermos evitar erros sistêmicos talvez devêssemos nos manter mais confiantemente dentro daquela cronologia que parte da invenção da escrita para o presente. Afinal, documentos escritos são fontes mais seguras que oferecem, por exemplo, o testemunho de um eclipse ou de um terremoto que com os atuais instrumentos de estudo da astronomia ou da sismografia podem ser identificados com absoluta precisão. Isso nos levaria para algo em torno de 2500 a.C., que é quando começa a história registrada por escrito.
"Contudo, mesmo alguns historiadores não bíblicos, como John G. Read, ainda se mostram cautelosos ao afirmar que 'as datas bem autenticadas [em relação à cronologia egípcia] só nos permitem recuar para 1.600 anos a.C.' A razão para este comentário está em que as datas egípcias com maior ou menor grau de precisão só podem ser traçadas com certa margem de segurança até à discutível dinastia de Ramsés (1320 a.C.), que levou pelo menos nove reis a adotarem esse nome.
"As datas a partir desse período são estabelecidas com base em listas de reis sumerianos, cronologia grega e outras fontes correlatas. Porém, para períodos que antecedem essa época, aumenta-se consideravelmente o grau de incerteza. Os egípcios datavam os fatos pelo reinado de seus faraós. Por exemplo: 'isso ocorreu no terceiro ano do reinado de Ahmosis'. Mas hoje é sabido que houve co-regências, de modo que o quinto ano de um rei poderia ser também o seu primeiro ano, pois os quatro anteriores foram em companhia de seu pai que não havia de modo algum abdicado do trono.
"Ademais, não temos precisamente o número de reis que governaram em todos os períodos do Egito. Por razões políticas ou religiosas, os escribas muitas vezes compilavam as dinastias com uma precisão exata, noutras não. Algumas dessas listas sobreviveram até nosso tempo e entre elas podemos citar a Pedra de Palermo, que está em Turim, e a Tábua de Karnak, que atualmente encontra-se no Museu do Louvre. Contudo, nenhuma dessas listas está preservada o bastante para solucionar todos os detalhes a ponto de oferecer uma cronologia absolutamente precisa. Talvez achados futuros poderão nos ajudar, mas, por enquanto, são estes os elementos que a história disponibiliza."
Um agnóstico afirmou que a historiografia moderna não aceita a Bíblia como fonte histórica confiável, ou seja, que as Escrituras não recebem o endosso da História. Ele cita certos fatos sobrenaturais, narrados na Palavra de Deus, como a destruição de Sodoma e Gomorra, as pragas do Egito, a destruição de Jericó, e outros eventos miraculosos, como meras lendas. Eu pergunto: Qual a real posição da moderna historiografia em relação à Bíblia? Há indícios arqueológicos para os acontecimentos acima mencionados? – F.
A aceitação ou não da veracidade bíblica vai depender do paradigma que a pessoa adota. Se a pessoa está disposta a crer, verá evidências da confiabilidade bíblica; por outro lado, se a pessoa parte do pressuposto de que a Bíblia é uma coleção de fábulas, interpretará os fatos sob essa ótica. Na verdade, não há perigo na dúvida, desde que se esteja disposto a acreditar.
Muitos achados arqueológicos confirmaram e têm confirmado a parte histórica das Escrituras, e há muitos bons livros sobre esse assunto. Devido ao espaço, seria quase impossível mencionar aqui todas as descobertas arqueológicas que têm confirmado a inerrância bíblica. Por isso, limito-me a analisar alguns achados que confirmam relatos bíblicos.
O rei Davi – Escavações arqueológicas nas ruínas da antiga cidade israelita de Dã, na alta Galiléia, em 1993, revelaram um achado impressionante: uma pedra de basalto com inscrições. O arqueológo Avraham Biran, do Hebrew Union College de Jerusalém, logo identificou a pedra como parte de uma estela datada do século 9 a.C. Aparentemente, comemorava a vitória do rei de Damasco sobre dois inimigos: o rei de Israel e a Casa de Davi. A referência histórica a Davi caiu como uma bomba. O nome do rei de Israel nunca fora antes encontrado em nenhum documento antigo, além da Bíblia. Mas ali estava uma inscrição feita não por um escriba hebreu, mas por um inimigo dos israelitas, pouco mais de um século após a época em que Davi vivera. Essa descoberta não só confirmou a existência do rei como também sua dinastia.
Kenneth A. Kitchen, egiptólogo e orientalista aposentado pela Universidade de Liverpool, na Inglaterra, afirma que a arqueologia e a Bíblia “se harmonizam” quando descrevem o contexto histórico das narrativas dos patriarcas. Um exemplo: José, um dos filhos de Jacó, foi vendido como escravo por 20 moedas de prata (ver Gênesis 37:28). Kitchen assinala que esse era o exato preço de um escravo naquela região, naquela época, como ficou comprovado por documentos recuperados na região que é hoje a Síria e o Iraque.
Outros documentos revelam que o preço de escravos subiu de forma contínua nos séculos seguintes. Se a história de José tivesse sido inventada por um escriba judeu do 6º século, como sugerido por alguns céticos, por que o valor citado não corresponde ao preço da época?
O Êxodo – Embora haja os que contestem este que é um dos relatos mais importantes da Bíblia Hebraica – o Êxodo –, Nahum Sarna, professor de estudos bíblicos da Universidade de Brandeis, afirma que o relato do Êxodo “não pode, de modo algum, ser uma peça de ficção. Nenhuma nação inventaria para si mesma uma tradição assim tão inglória”, a menos que houvesse um núcleo verídico. E William G. Dever, arqueólogo da Universidade do Arizona, observa: “Escravos, servos e nômades costumam deixar poucos traços nos registros arqueológicos.” Daí não se ter encontrado vestígios arqueológicos do Êxodo.
Já o Dr. Paulo Bork, que fez cursos em várias universidades, como a Pacific School of Religion, da Califórnia, a Universidade Hebraica de Jerusalém e a Universidade de Londres, Inglaterra, e que participou de diversas pesquisas e expedições arqueológicas ao redor do mundo, afirma que “sempre existirão aqueles que não crêem na Bíblia e a criticam. Muitos deles não vão mudar sua forma de pensar, independentemente das evidências arqueológicas. Por outro lado, temos descoberto tantas evidências que iluminam a parte histórica da Bíblia que isso tem tornado muitos céticos em crentes”.
Sodoma e Gomorra – O Dr. Bork, mencionado acima, numa entrevista que me concedeu há algum tempo, disse: “Escavamos aquela região por vários anos e descobrimos coisas muito interessantes, que respaldam o relato bíblico. Existiam cinco cidades na parte leste do Mar Morto. Quando as escavamos, encontramos grande quantidade de cinzas. Em alguns lugares havia uma camada de um metro de cinzas. Não há outra maneira de explicar tamanha destruição e tanta cinza em um só local, a não ser pelo trágico relato de Gênesis.”
A Criação e o Dilúvio – Importantes documentos como o Enuma Elish, o Épico de Atrahasis e o Épico de Gilgamesh possuem fortes paralelos com a descrição bíblica da criação do mundo, a queda do ser humano e a vinda de um dilúvio sobre a Terra. Por causa dessas similaridades, alguns historiadores têm sugerido que o relato bíblico não passa de um plágio de documentos mais antigos. Entretanto, como destaca Rodrigo Pereira da Silva, doutor em Teologia do Novo Testamento pela Pontifícia Faculdade Católica de Teologia N. S. Assunção, em São Paulo, e especializado em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, “as diferenças (que são muito mais significativas que as similaridades) fazem supor não uma cópia de material, mas antes uma referência múltipla aos mesmos eventos”. No antigo Oriente Próximo, a regra é que relatos e tradições podem surgir (por acréscimo ou embelezamento) na elaboração de lendas, mas não o contrário. No antigo Oriente, as lendas não eram simplificadas para se tornar pseudo-história, como tem sido sugerido para o Gênesis.
O Dr. Ariel Roth, autor do livro Origens – Relacionando a Ciência com a Bíblia, analisou cerca de 300 mitos da Criação encontrados entre tribos indígenas norte-americanas e concluiu que, a despeito de certa variação de costumes e outros fatores culturais, os mais variados grupos se encontravam em alguns temas principais. Por que essas similaridades de idéias míticas e imagens abundam em culturas tão distantes umas das outras? “A resposta”, segundo o Dr. Rodrigo, “não poderia ser outra senão a de que todas as tradições se encontram num mesmo evento real que ocorreu em algum ponto da história antiga.”
“Seus elementos coincidentes apontam o tempo em que a raça humana ocupou o mesmo espaço e praticou a mesma fé”, diz o estudioso Merryl Unger. “Suas semelhanças se devem a uma mesma herança, onde cada raça de homens manteve, de geração em geração, os históricos orais e escritos da história primeva da raça humana.” O Gênesis, portanto, se torna o elemento de convergência literária dessas semelhanças e esboça a forma original dessas tradições hoje espalhadas pelo mundo.
Outro detalhe importante a se destacar: é bastante estranho (do ponto de vista da interdependência histórica) que a Bíblia apenas ecoasse outros mitos quando a mola mestra de sua teologia é o monoteísmo, que se choca frontalmente com a linguagem e a cosmovisão politeísta encontrada nos demais textos.
Conclusão – William F. Albright escreveu no Retrospect and Prospect in New Testment Archaelogy, pág. 29: “Todas as escolas radicais na crítica ao Novo Testamento que existiram no passado ou existem hoje são pré-arqueológicas, e por terem sido construídas in der Luft (no ar) são bastante antiquadas hoje.” E Paul Frischauer, no livro Está Escrito – Documentos que Assinalaram Épocas, pág. 103, afirma que “o que está escrito na Bíblia aconteceu efetivamente ... a credibilidade histórica dos eventos mais importantes, como a emigração do patriarca Abraão de Ur, na Suméria, o Êxodo do Egito e o cativeiro babilônico, pôde ser comprovada por escavações arqueológicas e por achados de inscrições hebraicas”.
Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia
A aceitação ou não da veracidade bíblica vai depender do paradigma que a pessoa adota. Se a pessoa está disposta a crer, verá evidências da confiabilidade bíblica; por outro lado, se a pessoa parte do pressuposto de que a Bíblia é uma coleção de fábulas, interpretará os fatos sob essa ótica. Na verdade, não há perigo na dúvida, desde que se esteja disposto a acreditar.
Muitos achados arqueológicos confirmaram e têm confirmado a parte histórica das Escrituras, e há muitos bons livros sobre esse assunto. Devido ao espaço, seria quase impossível mencionar aqui todas as descobertas arqueológicas que têm confirmado a inerrância bíblica. Por isso, limito-me a analisar alguns achados que confirmam relatos bíblicos.
O rei Davi – Escavações arqueológicas nas ruínas da antiga cidade israelita de Dã, na alta Galiléia, em 1993, revelaram um achado impressionante: uma pedra de basalto com inscrições. O arqueológo Avraham Biran, do Hebrew Union College de Jerusalém, logo identificou a pedra como parte de uma estela datada do século 9 a.C. Aparentemente, comemorava a vitória do rei de Damasco sobre dois inimigos: o rei de Israel e a Casa de Davi. A referência histórica a Davi caiu como uma bomba. O nome do rei de Israel nunca fora antes encontrado em nenhum documento antigo, além da Bíblia. Mas ali estava uma inscrição feita não por um escriba hebreu, mas por um inimigo dos israelitas, pouco mais de um século após a época em que Davi vivera. Essa descoberta não só confirmou a existência do rei como também sua dinastia.
Kenneth A. Kitchen, egiptólogo e orientalista aposentado pela Universidade de Liverpool, na Inglaterra, afirma que a arqueologia e a Bíblia “se harmonizam” quando descrevem o contexto histórico das narrativas dos patriarcas. Um exemplo: José, um dos filhos de Jacó, foi vendido como escravo por 20 moedas de prata (ver Gênesis 37:28). Kitchen assinala que esse era o exato preço de um escravo naquela região, naquela época, como ficou comprovado por documentos recuperados na região que é hoje a Síria e o Iraque.
Outros documentos revelam que o preço de escravos subiu de forma contínua nos séculos seguintes. Se a história de José tivesse sido inventada por um escriba judeu do 6º século, como sugerido por alguns céticos, por que o valor citado não corresponde ao preço da época?
O Êxodo – Embora haja os que contestem este que é um dos relatos mais importantes da Bíblia Hebraica – o Êxodo –, Nahum Sarna, professor de estudos bíblicos da Universidade de Brandeis, afirma que o relato do Êxodo “não pode, de modo algum, ser uma peça de ficção. Nenhuma nação inventaria para si mesma uma tradição assim tão inglória”, a menos que houvesse um núcleo verídico. E William G. Dever, arqueólogo da Universidade do Arizona, observa: “Escravos, servos e nômades costumam deixar poucos traços nos registros arqueológicos.” Daí não se ter encontrado vestígios arqueológicos do Êxodo.
Já o Dr. Paulo Bork, que fez cursos em várias universidades, como a Pacific School of Religion, da Califórnia, a Universidade Hebraica de Jerusalém e a Universidade de Londres, Inglaterra, e que participou de diversas pesquisas e expedições arqueológicas ao redor do mundo, afirma que “sempre existirão aqueles que não crêem na Bíblia e a criticam. Muitos deles não vão mudar sua forma de pensar, independentemente das evidências arqueológicas. Por outro lado, temos descoberto tantas evidências que iluminam a parte histórica da Bíblia que isso tem tornado muitos céticos em crentes”.
Sodoma e Gomorra – O Dr. Bork, mencionado acima, numa entrevista que me concedeu há algum tempo, disse: “Escavamos aquela região por vários anos e descobrimos coisas muito interessantes, que respaldam o relato bíblico. Existiam cinco cidades na parte leste do Mar Morto. Quando as escavamos, encontramos grande quantidade de cinzas. Em alguns lugares havia uma camada de um metro de cinzas. Não há outra maneira de explicar tamanha destruição e tanta cinza em um só local, a não ser pelo trágico relato de Gênesis.”
A Criação e o Dilúvio – Importantes documentos como o Enuma Elish, o Épico de Atrahasis e o Épico de Gilgamesh possuem fortes paralelos com a descrição bíblica da criação do mundo, a queda do ser humano e a vinda de um dilúvio sobre a Terra. Por causa dessas similaridades, alguns historiadores têm sugerido que o relato bíblico não passa de um plágio de documentos mais antigos. Entretanto, como destaca Rodrigo Pereira da Silva, doutor em Teologia do Novo Testamento pela Pontifícia Faculdade Católica de Teologia N. S. Assunção, em São Paulo, e especializado em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, “as diferenças (que são muito mais significativas que as similaridades) fazem supor não uma cópia de material, mas antes uma referência múltipla aos mesmos eventos”. No antigo Oriente Próximo, a regra é que relatos e tradições podem surgir (por acréscimo ou embelezamento) na elaboração de lendas, mas não o contrário. No antigo Oriente, as lendas não eram simplificadas para se tornar pseudo-história, como tem sido sugerido para o Gênesis.
O Dr. Ariel Roth, autor do livro Origens – Relacionando a Ciência com a Bíblia, analisou cerca de 300 mitos da Criação encontrados entre tribos indígenas norte-americanas e concluiu que, a despeito de certa variação de costumes e outros fatores culturais, os mais variados grupos se encontravam em alguns temas principais. Por que essas similaridades de idéias míticas e imagens abundam em culturas tão distantes umas das outras? “A resposta”, segundo o Dr. Rodrigo, “não poderia ser outra senão a de que todas as tradições se encontram num mesmo evento real que ocorreu em algum ponto da história antiga.”
“Seus elementos coincidentes apontam o tempo em que a raça humana ocupou o mesmo espaço e praticou a mesma fé”, diz o estudioso Merryl Unger. “Suas semelhanças se devem a uma mesma herança, onde cada raça de homens manteve, de geração em geração, os históricos orais e escritos da história primeva da raça humana.” O Gênesis, portanto, se torna o elemento de convergência literária dessas semelhanças e esboça a forma original dessas tradições hoje espalhadas pelo mundo.
Outro detalhe importante a se destacar: é bastante estranho (do ponto de vista da interdependência histórica) que a Bíblia apenas ecoasse outros mitos quando a mola mestra de sua teologia é o monoteísmo, que se choca frontalmente com a linguagem e a cosmovisão politeísta encontrada nos demais textos.
Conclusão – William F. Albright escreveu no Retrospect and Prospect in New Testment Archaelogy, pág. 29: “Todas as escolas radicais na crítica ao Novo Testamento que existiram no passado ou existem hoje são pré-arqueológicas, e por terem sido construídas in der Luft (no ar) são bastante antiquadas hoje.” E Paul Frischauer, no livro Está Escrito – Documentos que Assinalaram Épocas, pág. 103, afirma que “o que está escrito na Bíblia aconteceu efetivamente ... a credibilidade histórica dos eventos mais importantes, como a emigração do patriarca Abraão de Ur, na Suméria, o Êxodo do Egito e o cativeiro babilônico, pôde ser comprovada por escavações arqueológicas e por achados de inscrições hebraicas”.
Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário